sexta-feira, 12 de setembro de 2014

ARNALDO SANTOS - DESMANDAMENTOS - NEOLOGISMO QUE REPRESENTA O CAOS ATUAL

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O PERCURSO DOS DESMANDAMENTOS

Arnaldo Santos |
8 de Julho, 2014
Ninguém me nomeou para ficar de plantão no serviço de assinalar os desmandamentos e outras tropelias que nos últimos tempos têm afligido os habitantes desta nossa Luanda, cada vez mais metropolitana. Já nos bastam os paternalistas que estão à espera de mostrar que eles é que têm razão.

O percurso dos desmandamentos é penoso de percorrer. Através dele se percebe como os homens são iguais e são diferentes logo que as circunstâncias históricas se modifiquem. Pelo que se passou depois da nossa Independência não é difícil compreender a razão. A impossibilidade de se erguer e consolidar instituições fortes e credíveis, fez com que os homens e as suas tribos (formadas não com base na ancestralidade, mas em interesses), se substituíssem a elas. Nem sempre bem. Quase sempre mal.
Tenho para mim que um dos motivos maiores que faz com que os valores sociais se degradem  aceleradamente é precisamente essa marcha dos desmandamentos que se assiste. De facto, máximas como “não matar”, “não roubar”, “não levantar falsos testemunhos” e outras, independentemente de procederem do Decálogo ou do Código Civil, deviam corresponder a mandamentos adoptados na educação nas escolas e na Leitura, o que não sucedeu. O cidadão que acredita num destino nacional comum, ultimamente sente-se descoroçoado. Entrou na moda a usurpação de identidade, falsificações, as burlas bancárias de milhões e teme-se que algumas dessas práticas, até aqui insólitas, tendam a impor-se como rotinas. Os prevaricadores já nem sequer temem as cadeias. Passam por elas como inquilinos de curta duração e logo se pavoneiam nos salões. Nisso são semelhantes aos“motoboys” que a coberto da sua menoridade transitam tranquilamente pelas esquadras para logo serem soltos.
Mas eles não causam menos danos e à guisa dos antigos “cowboys” americanos, arremetem aos tiros pelas ruas em assaltos, por vezes, mortíferos. No Bairro Azul, um pacífico pai de família teve de reagir: desarmou e abateu um deles com a sua própria arma! O sentimento de solidariedade que aprovou essa reacção em legítima defesa, deve dar o que pensar à polícia.
Há quem queira ver nesses mambos, o reflexo de políticas desajustadas. Mas os “desafectos do poder” ignoram deliberadamente outros elementos  igualmente determinantes, quando isso lhes convém. Nesse jogo, cada vez nem sempre se interpretam os casos da mesma maneira, isto é, “direitamente” como no caso do Mateus. Ele mora na Estalagem, a questão não tem quijila. Foi a botija e o fogão que lhe roubaram de dia, por falta de segurança no bairro. Não levaram mais nada. Mesmo a catana ficou. Não dá para tergiversar.
Tem também outros acontecimentos em que as razões das reclamações estão bastantemente identificadas e eu mesmo aqui não me escuso de lhes assinalar como os casos de ocupação dos terrenos do kikuxi. “
Esta terra está-se a tornar um país de desordeiros e gatunos”.
A mim, não me compete imiscuir-me nesses vaticínios. Não sou supersticioso. As instituições apropriadas para obviar esss situações estão aí e até realizam fóruns e Conselhos Consultivos para estudar uma repressão adequada. Ninguém que se pode substituir a elas, nem mesmo os adversários do Poder, que teimam em designar-lhes como “instituições do regime”. É claro que elas só têm capacidade para suster as tropelias porque no que concerne aos desmandamentos, esses, requerem muito mais atenção de toda a sociedade.

PS: - A partir deste momento, a regularidade desta crónica pode ser interrompida de vez em quando, pelo que me permito pedir desculpas aos meus eventuais  leitores.  

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