A
SACAÇÃO FANTÁSTICA DE LEONARDO BOFF SOBRE A IMBECILIDADE HUMANA
CRÍTICA AO MODELO-PADRÃO DE SUSTENTABILIDADE
26/02/2012
Referimo-nos
anteriormente ao fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter
inaugurado uma nova era geológica – o antropoceno – era em que
ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o eventual
exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e
cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa
agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando
enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos.
Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Estas extinções,
misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos
últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções
em massa, praticamente uma em cada cem milhões de anos, exterminando
grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65
milhões de anos quando foram dizimados os dinossauros entre outros.
Até
agora todas as extinções eram ocasionadas pelas forças do próprio
universo e da Terra a exemplo da queda de meteoros rasantes ou de
convulsões climáticas. A sexta está sendo acelerada pelo próprio
ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada
cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e
consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o
cosmólogo Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next
Magazin, n.19. Os dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor
de ecologia em Standford calcula em 250.000 espécies exterminadas
por ano, enquanto Edward O. Wilson de Harvard dá números mais
baixos, entre 27.000 e 100.000 espécies por ano (R. Barbault,
Ecologia geral 2011, p.318).
O
ecólogo E. Goldsmith da Universidade da Georgia afirma que a
humanidade ao tornar o mundo cada vez mais empobrecido, degradado e
menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em três milhões de
anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta
desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que
significa uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a
destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual
interrupção de nosso ensaio civilizatório e quiçá até de nossa
própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia americana,
escreveu:”Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o
homicídio e mesmo com o genocídio mas não sabem lidar com o
biocídio e o geocídio”(Our Way into the Future, 1990 p.104).
Podemos
desacelerar a sexta extinção em massa já que somos seus principais
causadores? Podemos e devemos. Um bom sinal é que estamos
despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões de
anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo
que suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não
contra nós. Mas ele pede a nossa cooperação já que somos os
maiores causadores de tantos danos. Agora é a hora de despertar
enquanto há tempo.
O
primeiro que importa fazer é renovar o pacto natural entre Terra e
Humanidade. A Terra nos dá tudo o que precisamos. No pacto, a nossa
retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra.
Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e práticas
ecocidas e biocidas.
O
segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela
relação pela qual entramos em sintonia com os dinamismos dos
ecossistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhes a vitalidade e
garantindo-lhes sustentabilidade. Para isso necessitamos nos
reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e
aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais
cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de
submeter e reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.
O
terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos mas para com
todos os seres, compaixão como forma de amor e cuidado. A partir de
agora eles dependem de nós se vão continuar a viver ou se serão
condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de
dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do
cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida.
No
meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozóica que coloca o
ecológico no centro de nosas atenções. Só assim há esperança de
salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso
planeta vivo.
Leonardo
Boff é autor com Mark Hathaway de O Tao da Libertação: explorando
a ecologia da transformação, Vozes 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário