CARTA ESCRITA NO ANO DE 2070
08 de julho de 2008
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Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50,
mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque
bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das
pessoas mais idosas nesta sociedade.
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Recordo quando tinha 5 anos quando tudo
era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos
jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por cerca de uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes todas as
mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora devemos rapar a cabeça para a
manter limpa sem água.
Antes o meu pai lavava o carro com a
água que saía de uma mangueira. Hoje as crianças não acreditam que a água era
utilizada dessa forma. Recordo que havia muitos anúncios que diziam Cuide
da água, só que ninguém ligava; pensávamos que a água jamais podia acabar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas
e mananciais aquíferos estão irreversivelmente, contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por
dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo.
A roupa é descartável, o que aumenta
demasiadamente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar as fossas
sépticas como no século passado porque as redes de esgotos estão entupidas por
falta de água.
A aparência da população é horrorosa;
corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele
pelos raios ultravioletas que já não têm a camada de ozônio que os filtrava na
atmosfera. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os
lados.
As infecções gastrointestinais,
enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.
A indústria está paralisada e o
desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de
emprego e pagam com água potável em vez de salário. Os roubos, por um balde de
água, são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética e pela
ressiquidade da pele uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40. Os
cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar água, o oxigênio
também está degradado por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente
intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de
muitos indivíduos, como consequência há muitos meninos com insuficiências,
mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que
respiramos. 137 m3 por dia por habitante e adulto. As pessoas que não podem
pagar são retiradas das "zonas ventiladas", que estão dotadas de
gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, não são de boa
qualidade, mas pode-se respirar, mas a expectativa de vida média agora é de 35
anos.
Em alguns países ficaram manchas de
vegetação com o seu respectivo rio que é
fortemente vigiado pelo exército, a água tornou--se um tesouro muito cobiçado
mais do que o ouro ou os diamantes.
Aqui em troca, não há árvores porque
quase nunca chove, e quando chega a registrar-se uma precipitação, é de chuva
ácida; as estações do ano têm sido severamente transformadas pelas provas atômicas
e da indústria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia que cuidar do
meio ambiente e ninguém levou a sério.
Quando a minha filha me pede que conte
de quando era jovem descrevo o quão belo eram os bosques, falo da chuva, das
flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens,
beber toda a água que quisesse, o quão saudáveis eram as pessoas.
Ela pergunta-me:
- "Papai! Porque acabou a
água?" Então, sinto um nó na garganta;
não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou
destruindo o meio ambiente ou simplesmente não levamos em conta tantos avisos.
Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na
terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do
meio ambiente chegou a um ponto irreversível.
Como gostaria de voltar atrás e fazer
com que toda a humanidade compreendesse isto, quando ainda podíamos fazer algo
para salvar o nosso planeta terra!
Fonte: Domínio Popular
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