A CRÍTICA DA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Arnaldo
Niskier
Em
palestra sobre a situação atual da Educação Básica no Brasil, realizada na
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, alguns números
chamaram a atenção dos conselheiros, levando-nos a uma reflexão mais aprofundada.
Temos
hoje 60 milhões de alunos frequentando as escolas brasileiras, em todos os
níveis. Cerca de 33% da população, o que representa uma quantidade expressiva.
O ensino cresceu muito, nos últimos anos, sobretudo no fundamental. Mas quais
são as perspectivas para o futuro? Como se trabalha a questão da qualidade?
Nas
atuais circunstâncias, 70% da população das escolas públicas são crianças de
famílias de baixa renda. Um em cada 10 brasileiros com mais de 15 anos ainda
não sabe ler e escrever. Temos 1,8 milhão de jovens de 15 a 17 anos de idade fora
da escola.
Nosso
país, ainda com imensos vazios territoriais, perde substância demográfica na
sua população dos 7 aos 14 anos de idade. Há uma diminuição clara nas taxas de natalidade.
Estima-se que nossa população até 17 anos vá encolher em 7 milhões de
habitantes, nos próximos dez anos, caindo de 58 milhões para 51 milhões. É um
fator estratégico de grande relevo para os que projetam o futuro da educação
brasileira. Precisamos de mais escolas e/ou mais e melhores professores?
O
Brasil tem 197.468 escolas de ensino básico. Destas, 129.579 (65,62%) não têm
bibliotecas, o que significa um total de 15.000.000 de alunos sem bibliotecas.
Mas está na lei que, a partir de 2020, todas as escolas, públicas e
particulares, deverão ter uma biblioteca. A meta é alcançar, no mínimo, um
livro por aluno matriculado.
Melhorar
a educação brasileira, de um modo geral, pode ser uma utopia? Depende, naturalmente,
da existência de uma política séria, no setor, conduzida por pessoas
competentes e desinteressadas de proveito pessoal ou político. A boa
escola deixará de ser uma utopia quando esse quadro se modificar.
A
pergunta que ficou igualmente no ar referiu-se à consolidação das nossas leis
educacionais. A LDB tornou-se uma bonita e colorida colcha de
retalhos. Só um gênio pode guardar de cabeça tantas e tão diversificadas
normas, com um pormenor que deve ser mencionado: virou moda, como se fez no
natimorto Plano Nacional de Educação, estabelecer metas exuberantes, para o
futuro, como se tem feito sistematicamente com a erradicação do
analfabetismo. Se não ocorrer o que se prevê, a quem caberá a
culpa? Os autores da façanha estarão longe.
Fala-se
muito em gastos com a educação, expressão que deve ser condenada. Gasto é
sinônimo de desperdício. Entendemos a educação como investimento. Assim ela
deve ser compreendida.
Jornal
do Commercio (RJ), 05/7/2013
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