Protesto contra o mau uso da língua do látio
Milton Abirached
3 de dezembro de 2014 · Rio de Janeiro
Faz pouco tempo, jornalistas ainda escreviam e falavam em
português. Isso foi antes do deslumbramento populista com a tal “língua viva”,
uma espécie de alforria para cada um poder transformar o Português numa espécie
de livre-patuá, que pode incorporar desde jargões ridículos de categorias
profissionais até falta de concordância verbal e regência errada.
É claro que a língua é viva, vai mudando ao longo do tempo.
Mas como todo espectador de “Walking dead” sabe, ser vivo é diferente de ser
morto-vivo. Um zumbi nem articula língua nenhuma. É por isso que hoje a gente
vê/lê jornalistas dizendo que a “aeronave” caiu no Mar da China. Mas, em
português de gente, o que caiu foi um avião.
Quando jornalista ouve o PM falar em “viatura”, ele deveria transformar isso em carro de polícia. Mas raros o fazem. E a língua precisa é fundamental para se transmitir informação.
Quando jornalista ouve o PM falar em “viatura”, ele deveria transformar isso em carro de polícia. Mas raros o fazem. E a língua precisa é fundamental para se transmitir informação.
Se a Dilma fala uma daquelas frases sem sentido, ela não está
“sinalizando” nada. Ninguém sabe onde foi parar o verbo “indicar”? E por que
todos estão dizendo que o Planalto “avalia” que a base aliada é inimiga? Por
que o Planalto não conclui a mesma coisa?
Quando o jornalista ouve um delegado dizer que existem
“provas robustas” contra o acusado, ele deve jogar esse “robustas” no lixo e
escrever que as provas são consistentes, contundentes ou mesmo que são muitas.
Mas o “robustas” está frequentando texto de jornais, passagens de repórteres de
TV e cabeças de âncora de telejornais.
A mesma coisa quando se entrevista um médico dizendo que o pobre defunto “fez” um aneurisma “importante”. O verbo “fazer”, em algum lugar do senso comum, pressupõe a vontade do defunto de ter sofrido o aneurisma – que certamente inexistiu. E “importante” carrega conotação positiva que não combina com a fama de maus dos aneurismas.
A mesma coisa quando se entrevista um médico dizendo que o pobre defunto “fez” um aneurisma “importante”. O verbo “fazer”, em algum lugar do senso comum, pressupõe a vontade do defunto de ter sofrido o aneurisma – que certamente inexistiu. E “importante” carrega conotação positiva que não combina com a fama de maus dos aneurismas.
Jornalistas (sérios) há pouco tempo tinham um certo orgulho
de conseguir manter distância e (consequente) isenção dos entrevistados. Em que
trecho do caminho todos passaram a reproduzir cegamente jargões e vícios de
categorias profissionais, ou mesmo de quem fala errado? Canso de ler e ouvir
que Pelé “segue” internado na UTI. “Segue”, nessa acepção usada, não é
português. Por que estão todos aderindo a esse espanholismo (“sigue”) quando
nossos queridos continua e permanece estão aí dando sopa?
Economistas e profissionais de RH também são mestres em
impregnar a mente dos repórteres com bobagens poluidoras do texto jornalístico
de quem não tem mais o menor compromisso em zelar pela “última flor do Lácio,
inculta e bela”. E é um tal de inflação “impactando” os salários, “resgatando”
a ideia do gatilho (que não foi sequestrado...) e “agregando” sem nenhum objeto
direto, como se fosse um verbo intransitivo...
Artistas parecem ter aprendido com esses aí de cima. Outro
dia num jornal alguém “revisitava” a obra de outro com um “recorte” (eita
palavrinha pernóstica que acabou indo pro título...) contemporâneo. Eu já
decidi: quando vejo em jornal, TV ou internet que uma peça ou exposição estão
“revisitando” alguma coisa com “recorte”, “um olhar” ou “por um viés” assim ou
assado, prefiro ficar em casa. Se na reportagem o jornalista reproduz do
entrevistado também as palavras “ocupação”, “desconstrução”, “ruptura” ou diz
que as obras são “fronteiriças”, fico me perguntando para que serve uma
faculdade de Jornalismo. E se arte é só essa discussão besta e limitada por um
universo vocabular tão diminuto e cafona.
desabafo
Que bom que uma pessoa que consegue
projetar sua voz, resolveu protestar em alto e bom som, contra o assassinato da
beleza da língua portuguesa, esta atitude de descaso com a língua, nada mais é
do que a expressão viva da ignorância, pois as pessoas não lêem mais,
consequentemente, têm um vocabulário limitadíssimo, além do mais são vítimas de
pernósticos professores de pós-graduação,
que usam jargões, para definir seu status
e com isso implantam e perpetuam a mediocridade, o aluno não pode se
repetir, pois é feio usar as mesmas palavras, então vai ao dicionário, procura
uma palavra similar, nem sempre compatível com o contexto e a põe no trabalho e
sem uma orientação maior, lá vamos nós ribanceira abaixo estatelar-nos na ignorância
e no mau uso da língua, empobrecendo-a e
aviltando-a. Uma língua bela e riquíssima, proporciona-nos encantos
inenarráveis, seja através da prosa, narrativa e poesia e vêmo-nos manietados
pela ignorância que nos cerca.
O pior é que essa ignorância, que é igual a
um câncer, corrói toda a sociedade e a contamina. Esse processo de corrosão iniciou-se
nas escolas, que foram inoculando, em doses homeopáticas, a ignorância da
língua e agora, nem mesmo os professores de português num percentual bem
elevado, sabem ensinar e escrever de acordo com as normas.
É necessário que se reavaliem esses
professores e se lhes dê aulas de ortografia e gramática. O ensino é um caos, o
mais importante é o índice de aprovação que faculta o recebimento de verbas
para os municípios e os alunos que são passados serão os traficantes e os delinquentes
de amanhã, pois não têm condições de concorrer ao mercado de trabalho formal ou
informal e vão para o marginal.
Adelaide Abreu dos Santos
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