As Coisas Efémeras são as Mais Necessárias
Após breve permanência neste mundo, retomam ao
processo natural que as produziu, seja através de absorção no processo vital do
animal humano, seja através da decomposição; e, sob a forma que lhes dá o
homem, através da qual adquirem um lugar efémero no mundo das coisas feitas
pelas mãos do homem, desaparecem mais rapidamente que qualquer outra parcela do
mundo.
Escravo de
Si Mesmo
A suposição de que a identidade de uma pessoa
transcende, em grandeza e importância, tudo o que ela possa fazer ou produzir é
um elemento indispensável da dignidade humana. (...) Só os vulgares consentirão
em atribuir a sua dignidade ao que fizeram; em virtude dessa condescendência
serão «escravos e prisioneiros» das suas próprias faculdades e descobrirão,
caso lhes reste algo mais que mera vaidade estulta, que ser escravo e
prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e humilhante que ser escravo de
outrem.
A Pluralidade
Humana
Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja,
não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o
que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características
básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A
alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela
qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos
dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.
Na sua forma mais abstracta, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objectos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares.
Hannah Arendt,
in 'A Condição Humana'
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