Luís Osório
Ontem às
16:36
POSTAL DO DIA
Carta a Graça
Freitas
1.
Não nos conhecemos. Na verdade, não me parece sequer que nos tenhamos cruzado em alguma circunstância. Mas tenho-a visto (eu e certamente a larga maioria dos portugueses) todos os dias a dar a cara pela evolução da pandemia no nosso país.
Não nos conhecemos. Na verdade, não me parece sequer que nos tenhamos cruzado em alguma circunstância. Mas tenho-a visto (eu e certamente a larga maioria dos portugueses) todos os dias a dar a cara pela evolução da pandemia no nosso país.
2.
Posso imaginar a pressão diária, mas apenas imaginar. Sem dúvida que se nota o cansaço, está mais magra, impossível não o notar. Dá-me ideia, admito desde já a especulação, que se irrita com algumas das críticas que lhe têm sido feitas, pressinto-lhe o enfado.
Posso imaginar a pressão diária, mas apenas imaginar. Sem dúvida que se nota o cansaço, está mais magra, impossível não o notar. Dá-me ideia, admito desde já a especulação, que se irrita com algumas das críticas que lhe têm sido feitas, pressinto-lhe o enfado.
É exatamente por
isso que lhe escrevo.
Quero dizer-lhe que,
face às circunstâncias, está a correr bem. Não ligue mais do que a conta à
cólera da maledicência e à ignorância atrevida. Nunca se esqueça de que Portugal
é o país de onde saíram os navegadores, mas também é o país em que ficaram os
velhos do Restelo a dizer mal dos navegadores.
3.
Imagino que a irrite muito.
Imagino que a irrite muito.
De repente, a sua
história e percurso não servem para nada.
Todo o trabalho de
dedicação à saúde pública; a revolução que fez no sistema de vacinação
português; as centenas de médicos a quem influenciou com as suas aulas na
Faculdade de Medicina; o trabalho de sapa que permitiu que o seu antecessor
brilhasse; os elogios internacionais pelo seu contributo nas reuniões do Centro
Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
Não, Dra. Graça
Freitas, esqueça.
Para muitos
comentadores, autarcas ou agitadores de redes sociais isso não interessa nada.
De repente, são todos especialistas no que a senhora estuda há quarenta anos.
São imunologistas, matemáticos, físicos e tudo o resto de que se faz o cardápio
do grupo de trabalho que lidera.
4.
Errou várias vezes. Teve de alterar previsões. Disse uma coisa nuns dias e teve de se desdizer noutros. Imprudentemente falou demasiado cedo de situações que acabaram por não se concretizar – atenção que em política os murros na mesa nunca se anunciam, dão-se simplesmente. Por vezes falou com demasiada certeza, o que nunca é avisado.
Errou várias vezes. Teve de alterar previsões. Disse uma coisa nuns dias e teve de se desdizer noutros. Imprudentemente falou demasiado cedo de situações que acabaram por não se concretizar – atenção que em política os murros na mesa nunca se anunciam, dão-se simplesmente. Por vezes falou com demasiada certeza, o que nunca é avisado.
Mas pergunto-me se
poderia ser de outra maneira? Existia alguém que pudesse antecipar o que iria
acontecer antes de acontecer? Existiu algum precedente que pudesse ajudar a
antecipar? Sei que não. E isso obrigou a navegar à vista, a corrigir em mar
alto, a tentar que a viagem prosseguisse com o mínimo de danos.
5.
Ao ouvir determinadas pessoas a gritarem-lhe ao ouvido imagino o que seria se não estivesse a cumprir os objetivos. Imagino o que seria se Portugal tivesse os mortos (em proporção) de Espanha, Itália, Inglaterra ou França. Imagino o que seria se Portugal não fosse elogiado pelo New York Times, se o El País não nos definisse como os “suecos do sul” ou se tantos investigadores não estivessem a elogiar-nos pelo trabalho feito nesta primeira fase da pandemia. O que seria, Graça? Consegue imaginar?
Ao ouvir determinadas pessoas a gritarem-lhe ao ouvido imagino o que seria se não estivesse a cumprir os objetivos. Imagino o que seria se Portugal tivesse os mortos (em proporção) de Espanha, Itália, Inglaterra ou França. Imagino o que seria se Portugal não fosse elogiado pelo New York Times, se o El País não nos definisse como os “suecos do sul” ou se tantos investigadores não estivessem a elogiar-nos pelo trabalho feito nesta primeira fase da pandemia. O que seria, Graça? Consegue imaginar?
6.
Sei que gosta de cuidar das suas orquídeas, li algures. Aposto que também gostará de Confúcio que tratava as orquídeas com paixão e zelo. Gabava-lhes a beleza e a delicadeza. E foi Confúcio quem, muito a propósito, nos deixou a frase definitiva: “O que sabemos, saber que o sabemos. Aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: eis o verdadeiro saber.
Sei que gosta de cuidar das suas orquídeas, li algures. Aposto que também gostará de Confúcio que tratava as orquídeas com paixão e zelo. Gabava-lhes a beleza e a delicadeza. E foi Confúcio quem, muito a propósito, nos deixou a frase definitiva: “O que sabemos, saber que o sabemos. Aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: eis o verdadeiro saber.
LO

Não
creio que darei mais relevo, do que as palavras que escreveu o missivista, mas sinto-me
orgulhosa quando ao ler palavras tão honestas e tão cheias de empatia pelo
serviço do próximo, algo muito raro de ser visto, nesta nossa humanidade
corroída pela pandemia da inveja, mediocridade e subserviência. Um dos poucos
que não foram contaminados por esses vírus, levanta sua caneta para enaltecer
os esforços ingentes feitos à frente do caos generalizado, em busca de soluções
frente a ele, tal qual nossos ancestrais em suas casquinhas de nozes, para
chegar ao seu objetivo e chegaram! Parabéns Sra. Dr. Graça e Sr. Luís Osório, não
sou ninguém, mas gosto de me manifestar, quando posso, diante de atitudes
honestas e superiores ao vulgo.
Adelaide
Abreu-dos-Santos
Vila Velha, ES, Brasil, 15/04/2020
👏👏👏👏👏👏👏sem comentários, só admiração.
ResponderExcluirRealmente é uma pessoa a ser admirada, por isso quis pô-la em evidência e ganhar meu preito, ainda que eu seja mais insignificante que uma formiga, mass levou-me a quewrer render-lhe loas...
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