NÔTRE DAME E OS MENINOS.
Antonio marcos falqueto
15 de abril, 2019
Ontem passei por uma experiência triste que
por si só já merecia uma reflexão, mas a sequência do hoje aprofundou as
questões de forma que não alcanço decerto tudo.
Ia eu pelo metrô em SP às 21:00h em pé,
apesar de não estar lotado. Numa parada, de supetão, uma correria e pânico. Sem
entender o motivo, fiquei onde estava. Pouco a pouco entendi. Meninos de rua,
ou como dizem pivetes, uns dez, entre seis e treze anos, corriam e ocupavam o
vagão onde eu estava. Muita gente o abandonou em correria com medo.
Os meninos e as meninas, mal cuidados,
sujos, tinham a rua por casa. Mas tinham olhos brilhantes e através destes
via-se como eram lindos e lindas. Não tinham fome e estavam alegres, parecia
que estavam num passeio de aventura. Um perguntava ao outro, onde iriam.
Jabaquara? Este trem vai ao Jabaquara moço? Sim, vai. Fique até a última
estação. Não sabiam ler. Parecia que o dia deles era só diversão, mas as marcas
nos corpos e nos olhos diziam que não. Aulas, decerto não havia, nem amor de
pai e mãe.
"Se fosse de dia a gente ia pra
praia" disse um. "Qual praia é melhor?" Perguntou outro.
"Ubatuba." "São Vicente." "Maresias." E a menina
maior arriscou "Bertioga!" Eu concordei com a cabeça. "O senhor
já foi lá?" Não deu tempo de dizer que não, e já estavam todos à minha
volta para conversar sobre Bertioga. Eu não perderia aquilo por nada. Vinte
pares de olhos vivos queriam saber do mundo, queriam expandir seus horizontes.
"Lá tem aquele lugar onde ficam os índios" disse o mais alto.
"Como é o nome?" E eu perguntei, "Na aldeia?" "Isso
mesmo, disse ele, "Lá é a aldeia."
Então chegou a minha hora de saltar e eu me
despedi. Que pena, queria ter essa sensação de liberdade de ir com eles até
Jabaquara. Mas no fundo uma grande angústia me entristecia. O futuro desses
meninos será horroroso e a morte precoce poderá ser o menor dos males, talvez
uma redenção. Antes da morte outros monstros que os privem dessa liberdade
podem já estar à espreita, a fome, o crack, a violação do adulto, a
prostituição, e as portas fechadas. O futuro lhes será negado e não por escolha
deles.
Pois bem, pensativo dormi, acordei e ouvi
notícias. Nôtre Dame virou cinzas. O Museu Nacional... Nem dá pra acreditar.
Sem a referência do passado como será o nosso futuro? Galhos secos de uma
árvore da qual arrancaram as raízes? O que estamos fazendo conosco?
Então me vi como os meninos de ontem.
Porquê precipitadamente os julguei sem futuro quando nem posso garantir o meu?
Não iam às aulas, mas naqueles olhos vi uma esperança que gostaria de com eles
aprender. Talvez eles saibam melhor como sobreviver no mundo caótico que nós
letrados estamos criando. Eles não tem noção dos valores que precisamos
preservar, pois não receberam educação para isso. E, julgando pelos resultados,
temos nós essa noção?
Apropriei-me do texto do meu irmão, por que
achei excelente o olhar que lançou sobre um ato da vida que assistiu a céu
aberto, pensando na vida como uma peça encenada por todos nós e teve a
sensibilidade ou a humanidade de reconhecer nos meninos que entraram no metrô
os seus iguais, seres humanos, como todos nós. Adorei o texto e resolvi
postá-lo, não que meus blogs sejam muito visitados, mas vai que alguém que
precisa ler o lê...

💙💙
ResponderExcluirÉ com muito orgulho que me apropriei do teu texto para expô-lo, não tenho um blog de muita badalação, mas sei que quem vem é por que pensa e gosto muiito dessa classe de pessoas e é para elas e por eleas que me dedico sempre que tenho tempo. Obrigado meu irmão por seres como és...
ResponderExcluir👏🏻👏🏻👏🏻❤
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