VÍCIO EM ELETRÔNICOS VIROU DOENÇA
POR EDUARDO
AQUINO - 22/04/18 - 00h00
ILUSTRAÇÃO
FOTOGRÁFICA: ADELAIDE-ABREU-DOS-SANTOS

O Código Internacional de Saúde, mais
conhecido como CID, atualmente em sua décima edição, é um compêndio que
descreve e normatiza todas as doenças catalogadas pela Organização Mundial de
Saúde. Oficializa laudos, relatórios, descrição de quadros médicos definidos ou
hipóteses diagnósticas.
Diferentemente do americano DSM – Manual
diagnóstico e estatístico das doenças – mais polêmico e muito detalhado e
complexo, o CID, ao aceitar um novo diagnóstico, requer uma universalização
expressiva para aceitar um novo diagnóstico. Daí a importância da inclusão do
vício em aparelhos eletrônicos como uma forma de adição. Preenche, pois, três
critérios: promove dependência, abstinência e tolerância. Em outras palavras, o
usuário não consegue viver sem, na ausência do uso, sente sintomas físicos e
psíquicos, pela falta do objeto, e usa cada vez mais tempo, de forma mais
imoderada e obsessiva.

Chegamos a esse ponto, e, quanto mais nova
a geração, mais grave o vício.
Dados pipocam em trabalhos incontáveis: até
2050, a persistir a evolução das telas, 50% da população terá miopia, pela
falta de visão de profundidade em campo aberto, ou perdas auditivas graves pelo
uso de headphones em elevados decibéis já detectáveis em adolescentes e adultos
jovens, como também mudanças preocupantes com diminuição até anatômica do
hipocampo, região do cérebro responsável pela memória de fixação, pois hoje
tendemos a terceirizar a memória preguiçosamente, depositando nossa agenda
telefônica, de compromissos, cálculos, entre outras funções cognitivas, em
nossos celulares, IPADs e computadores de mesa.
Ou quem sabe caberia alertar os viciados do
perigo da luz azul violeta das telas sobre a atividade bioelétrica cerebral,
levando a insônias, irritabilidade e até alterações nos eletro encefalogramas.
Aliás, o sono precário, curto, invadido por games, redes sociais, entre outras
atividades inter-náuticas e virtuais, é um dos mais sérios e graves problemas.
Prova disso foi o prêmio Nobel concedido neste ano a três médicos que
descreveram o ciclo circadiano.
Trata-se da ritmicidade que o corpo e cérebro
humano experimentam a cada 24 horas. A renovação hormonal, o funcionamento do
cérebro, as alterações físicas, metabólicas, celulares, moleculares,
maravilhosamente, quase magicamente utilizam a luz solar e a escuridão, ou o
sono e a vigília, para nos preparar a cada dia pela batalha da sobrevivência,
pela adaptação ao meio ambiente. Preparava! É que a introdução de aparelhos
eletrônicos, com sua luminosidade artificial e tóxica, o desrespeito às leis
naturais, à vida solar ou às fases lunares, a ausência de tempo para o mundo
real, para o sentir a natureza, que deveria nos invadir pelos sentidos – visão,
audição, olfato, tato e paladar –, têm desorientado nosso grande computador
natural chamado cérebro. E, desta vez, a “droga” é epidêmica, devastadora,
silenciosa. É dada de presente de pais para filhos. Emudece casais, distancia
quem está do lado, é egoísta ao desconsiderar pessoas ao redor.


É fake, mas vivemos tempos de pós-verdade. então,
damos likes para aberrações e somos crédulos para tolices e falsos profetas.

Não há detox, vacina ou tratamento; apenas
exclusão para idosos inábeis, pobres sem condições de inserção tecnológica e
românticos dos “bons tempos em que...” ou anarquistas que querem parar tudo com
ciber-terrorismo ou com a promoção de um “bug” que traga pessoas de volta à
natureza. Ok, futurólogos se dividem: seremos ciborgues num mundo robótico ou
virtual ou sem tecnologia, de volta ao século XIII. Quem viver...

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