domingo, 14 de fevereiro de 2021

MAGDA PUCCI - OS RUPESTRES SONOROS DE MAWACA

 OS RUPESTRES SONOROS DO MAWACA

Magda pucci
                                        

A VOZ E A PEDRA

Depoimento de Magda Pucci diretora musical do grupo Mawaca www.mawaca.com.br

“Não apenas a comunicação, mas o próprio pensamento, estão relacionados de forma absolutamente especial ao som (...) Onde quer que existam seres humanos eles têm uma linguagem e sempre uma linguagem que existe basicamente para ser falada e ouvida, no mundo sonoro”

Siertsema 1955 

                         

O convite de Marcos Callia para o grupo Mawaca se apresentar no Moitará ocorreu em boahora. O tema Terra Brasilis foi perfeito para o momento do grupo Mawaca num momento em que eu estava trabalhando sobre temas musicais indígenas e estudando Antropologia. Então, ‘conjeturar’ como seria a música nos tempos das cavernas se transformou numa grande viagem que me daria suporte para aprofundar uma pesquisa que vinha sendo feito há anos. E eu me perguntava se o Mawaca², acostumado a trabalhar sobre as sonoridades de diferentes povos do mundo, conseguiria trabalhar sobre uma expressão de que não se tem registro? Que tipo de sons eram feitos nessa época? Como esse homem cantava? Que instrumentos ele tocava? Quais os ritmos? A música era cantada ou falada? Instigada pela possibilidade de imaginar como o homem de um período remoto fazia música, e que música era essa, fiquei me fazendo perguntas e mais perguntas, quase todas, quase impossíveis de serem respondidas. Propus então que a apresentação do Mawaca tivesse como mote as pinturas rupestres brasileiras³ providas de uma riqueza simbólica interessantíssima. Depois de Lévi-Strauss, Saussure e Barthes, surgiram novas perspectivas teóricas na arqueologia. “

        

          A forma não é o único aspecto a ser estudado, pensa-se em ritmo, combinações de técnicas, luminosidade, hierarquia entre grafismos, jogos, entre forma e fundo e até a acústica das cavernas é considerada.”⁴

         As pinturas nas cavernas representam o nascimento do homo sapiens, é a grafologia criada por esse homem que durante muito tempo ficou relegada ao plano estético, ao nascimento da arte, mas que depois passou a representar fontes essenciais de dados para reconstituir a vida dos povos que habitaram o Brasil. A arte, neste sentido, é destreza, habilidade, precisão, invenção, saber-fazer, no campo do espírito, onde são usadas imagens, símbolos e ideias além de ser uma atividade estética por ela mesma, tem uma finalidade mágica e ritualística. Eis aqui a ligação entre a imagem, o imaginário, a magia e o rito que poderíamos criar nesse Moitará. Sabemos que a imagem não é uma simples imagem, ela nos permite ser seu intermediário, ela se abstrai depois. Foi isso que pensei em fazer com a música do Mawaca, ligá-la às imagens rupestres, isto é, fazer com que a linguagem abrisse as portas da magia, pela palavra, pelo sinal, pelo som, pelo ritmo já impresso ali nas pedras.                  
                         


         Tanto a mitologia como a magia são complementares e estão associados às coisas humanas, mesmo as mais biológicas como a morte e o nascimento, ou mais técnicas como a caça e o trabalho. Pois bem, essas ideias estimularam a percorrer diferentes caminhos e repensar a música como fenômeno de comunicação, que alia o pensamento lógico à fruição estética, como bem disse Lévi-Strauss⁵ em seu livro o “Cru e o Cozido”.
 Em busca de uma via intermediária entre o exercício do pensamento lógico e a percepção estética, devia naturalmente inspirar-se no exemplo da música, que sempre a praticou” pg 33
 Segundo Edgar Morin, o homem daquele tempo “não pode ser reduzido a sua feição técnica de homo-faber nem a feição racionalista de homo sapiens. É preciso considerar na feição do homem, o mito, a festa, a dança, o canto, o êxtase, o amor, a morte, o despropósito, a guerra”
        Isso tudo me fez pensar em uma questão mais ampla: o elo entre a linguagem e a música; as origens dos mitos, dos ritos relacionados aos sons.                                                                   

 1 Depoimento publicado no livro Terra Brasilis - Pré-história e Arqueologia da Psique. Organizadores: Callia,Marcos; Oliveira, Marcos Fleury de Editora: Paulus
2 Essa apresentação deu origem a um projeto do grupo Mawaca realizado anos depois de nome Rupestres Sonoros O canto dos povos da Floresta registrado em CDhttp://www.mawaca.com.br/albums/cd/cd-  rupestressonoros/e DVD. http://www.mawaca.com.br/albums/dvd/dvd-rupestres-sonoros/ Mais informações na pagina do grupo www.mawaca.com.br 
3 Foram usadas as pinturas rupestres dos sítios arqueológicos do Pará e Piauí do livro "Arte Rupestre na Amazônia - Pará",de Edithe Pereira
4 Gaspar, Madu. A Arte rupestre no Brasil Ed. Zahar. São Paulo.

     

Observação:  Ousei transcrever este trecho de um estudo que encontrei, posto que penso que o conhecimento deve-se estender a todos os que acaso queiram aprender e por isso, algo tão curioso como este estudo da comunicação gráfica e sonora chamou a minha atenção e como curiosa que sou resolvi apresentá-lo no meu modesto blog, para brindá-lo àqueles que o acessam e que podem gostar, tanto quanto gostei e por isso resolvi apresentá-lo, para que o apreciem e se embrenhem por novos caminhos... Adelaide Abreu-dos-Santos

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