HOU YI E A
ORIGEM DO SOL
POR SHOICHI
IWASHITA
De repente, dez sóis surgiram no céu. Os sóis
tinham uma mãe, a deusa Yi He (que não era Sol), que escolhia apenas
um dos dez filhos para, numa carruagem de ouro, dar uma volta pelo céu. Só
voltavam à noite. O passeio-rodízio iluminava a nossa Terra diariamente e os
homens viam apenas um Sol. Durante milhões e milhões de anos foi assim. Um dia,
os filhinhos sóis entediados e sem entender por que só podiam passear sozinhos
sem a companhia uns dos outros resolveram se reunir. Discutiram e decidiram que
amanhã seria um grande dia: o dia em que passeariam juntos. Amanheceu. Os
DEZ subiram na carruagem de ouro. A mãe, ao ver a cena, desesperada,
tentou impedir que os filhos travessos saíssem. Mas sem sucesso, chorou.
Ao se aproximar da Terra, que foi ficando
cada vez mais vermelha e começou a arder em chamas com o calor excessivo, os
sóis se alegraram. Achavam que a movimentação dos homens e animais correndo de
um lado para o outro era um sinal de boas vindas e ficaram ainda mais alegres.
O povo, desesperado, procurou o imperador que resolveu escrever um
comunicado ao deus do leste, do reino de onde vinham os sóis. “Devido às
travessuras de seus filhos, a Terra inteira está em chamas”, dizia a carta. “Se
não tomares uma atitude, todos morreremos”. O deus do leste, entendendo a
gravidade da situação, chamou Hou Yi, um hábil arqueiro, para que desse
uma lição nos travessos. Deu a Hou Yi um arco vermelho e dez flechas brancas,
mas avisou que o arqueiro deveria apenas dar um susto e não machucá-los.
Ao chegar com sua esposa na Terra, Hou Yi
andou por vários lugares para verificar o estrago causado pelos sóis. Indignado
com a alegria dos sóis, que pareciam não se importar com o sofrimento dos
homens, o arqueiro pegou a primeira flecha, mirou em um dos sóis, e disparou. O
povo ouviu o “chi” do disparo da flecha que sumiu. Quando todos já
duvidavam da capacidade do arqueiro em atingir o sol com sua flecha, um dos
sóis se transformou em uma nuvem negra, e (agora, vem a melhor parte:)
caiu na terra como um corvo de três patas. Morto. A Terra refrescou um
pouco.
Com a aclamação das pessoas, Hou Yi pegou a
segunda flecha e disparou na direção de um sol que estava fugindo, assustado
com a morte de seu irmão. Acertou mais uma vez. E o outro sol caiu na
Terra, morto, estendido no chão, como um corvo de três patas. As pessoas
celebravam a temperatura cada vez mais amena e, na empolgação, instigavam o
arqueiro a disparar mais flechas. E assim, Hou Yi, disparou a terceira, a
quarta, a quinta flecha, esquecendo completamente as recomendações do deus do
leste. E sem errar o alvo, grande arqueiro que era, os sóis caíam na terra,
mortos, como corvos de três patas.
Depois que disparou contra o nono sol, o
imperador lembrou da importância do calor e da luz para a Terra e retirou a
última flecha das costas do arqueiro, que não se lembrava de quantos sóis havia
matado.
Terminada a chacina solar, Hou Yi que voltou
para o palácio com o imperador, foi proibido de voltar para o céu por ter
desrespeitado as ordens do deus do leste e, desde então, o único filho sol
que restou, se levanta bem cedo para passear no céu retornando só à noite. E
não falta um dia com medo de represálias.
MITOLOGIA CHINESA
Estátua do arqueiro Hou Yi, que ilustra esta
história, na China. Imagem: Reprodução
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